Mensagens Confortadoras

Mensagens confortadoras!
Bom dia meus irmãos e amigos, hoje postarei uma mensagem do um maravilhoso livro, cada dia postarei uma mensagem diferente, são mensagens lindas e que com certeza ajuda-ra muito, acreditem.

  • Os dois caminhos.

Num ermo morada um lavrador com seus dois filhos. Quando se fizeram moços, os dois jovens procuraram seu velho pai e lhe disseram:
    - Pai, nós aqui não temos futuro e vimos pedir-lhe que nos mostrasse o caminho para alcançar a grande cidade de Alquebir onde encontraremos a verdadeira felicidade.
    O velho ficou muito triste por ficar sozinho naquele ermo, mas achou justa a pretensão dos rapazes e lhes disse:
    - Meus filhos, há dois caminhos para se alcançar Alquebir. Um vai pela montanha das escarpas e outro atravessa o vale feliz.
    O caminho da montanha é aspero e cheio de acidentes, porem é mais curto; enquanto o do vale é largo e plano, mas muito longo. Partam quando quiserem e que Deus os acompanhe.
    O filho mais velho preferiu o caminho da montanha e o mais moço, entrouxando seus pertences, seguiu pela estrada do vale Feliz.
    O caminho da montanha das escarpas era realmente aspero e trabalhoso. O rapaz transpos torrentes ameaçadoras, pontes vacilantes, feriu-se nos alcantis, galgou cumes vertigiosos e escorregou em negros abismos. Mas por fim, chegou a grande cidade de alquebir, onde encontrou trabalho e felicidade.
  
    O caminho do vale feliz era largo e plano. Em cada canto havia sombras frescas e regatos murmuros. Nas tabernas das margens, reinava o vinho e a alegria, e a turbelencia das festas enchia de alvoroço os corações. O filho mais moço do lavrador foi-se detendo sem pressa pela longa estrada. Muitos anos se passaram, e o caminho parecia não ter fim. Os passos do caminheiro tornaram-se tropegos e incertos, sobre seus cabelos já havia a neve do tempo, e era com esforço que suas mãos tremulas se apoiavam a um hordão nodoso, quando chegou aos arredores de Alquebir, a cidade dos seus sonhos.
 
    O caminho da montanha das escarpas representa na vida material os esforços que fazemos para alcançar o Cristo mais rapidamente. Nele precisamos vencer o egoísmo, a prepotência, a sensualidade, a vaidade, o orgulho, a avareza, a maledicencia e a preguiça. E se conseguirmos transpor todos esses obstaculos, alcançaremos em pouco tempo o plao superior da luz, onde reinara a felicidade e de onde partiremos depois de um longo descanso para outras conquistas espirituais.
    O caminho do vale feliz representa a longa estrada dos instintos grosseiros e da maldade. Nele impera o egoismo que tem como companheiro o roubo. A crueldade e a venalidade. Nêle reina a prepotência apoiada na exploração e na guerra. Nêle pontifica a sensualidade, mãe de todos os vicios. Nêle domina  a vaidade e o orgulho, a grande cegueira que entrava o caminho dos espiritos. E nêle campeia a preguiça, a terrivel barreira que nos impede de evoluir, acomodados nos moldes dos prazeres fáceis.
  
    Tomemos, pois o caminho da montanha das escarpas. Vençamos as nossas fraquezas. Olhemos para dentro de nós como juzes inflexiveis e lavemos dos nossos espiritos o orgulho, a vaidade , a sensualidade e todos os impulsos odiosos. Perdoemos aos nossos inimigos e voltemo-nos para nossos semelhantes cheios de amor e de boa vontade. E finalmente, façamos um esforço supremo para dominar a preguiça, ajudando nossos irmãos encarnados e desencarnados com o grande gesto acolhedor da caridade.






  • A palavra
    O Cristo e seus discípulos procurara a sombra de uma figueira, fugindo do sol que os vinha castigando naquela empoeirada estrada da Betânia.
    Um lagarto que os espreitava balançando a cabeça, escondeu-se numa corrida ligeira nos tijolos de uma tapera próxima.
     Os apóstolos olhavam os arredores em silencio como que esmagados pela intensidade da luz do astro-rei.
    - Mestre! disse João levantando a cabeça cismadora. Qual é a ação que mais nos leva ao mal?
    Jesus traçou com o bordão alguns caracteres na areia e com sua voz pura e harmoniosa respondeu:
    - O verbo.
    Os discípulos voltaram-se para o Rabi com interesse e o Cristo, depois de alguns instantes de silencio, continuou:
    - É com a palavra blandiciosa que os sedutores atraem suas vitimas; é com discursos inflamudos e cheios de promessas que os demagogos enganam as massas; é em nome da justiça que os tiranos pregam a chacina e a guerra; é com o verbo do ritual que o sacerdotes abençoam os exércitos que vão para a chacina; é em nome do meu Pai que são desembreadas as perseguições religiosas; é ciciando nos cantos escusos que os caluniadores tecem a trama do seu ódio e é em geral tendo a praga da blasfémia nas suas bocas imundas que os maus e os perversos se chafurdam no charco do crime
    O silencio voltou a sombra da figueira
    O divino mestre, retornando o bordão, recomeçou a desenhar símbolos na areia.
    Fazendo soar guisos festivos passou pela estrada uma suarenta caravana.
    - Mestre tornou João curioso. E qual é a  ação que mais nos leva para o bem?
    Jesus ergueu o olhar para os céus e disse incisivo:
    - Ainda é o verbo. É pela palavra que se consolam os aflitos; é pela palavra que é mostrada a estrada do bem; é pela palavra que se obtém o retorno dos transviados; é pela palavra que se perdoa e é pela palavra que falamos com o Pai Supremo através das preces.
    Fez-se silencio novamente e como a luz começasse a declinar e o caminho se perdia no além o doce Rabi da Galileia tomou do bordão e se foi com os discípulos.

    maisã, da calunia e da perversidade, devemos usar o divino dom do verbo para obtermos a própria elevação e auxiliarmos o semelhante a tomar o bom caminho ou sair do lodaçal em que se encontra. Devemos elevar-no com o dom da palavra através da prece raciocinada até a morada do Cristo, rogando por nós e por todos os espíritos encarnados e desencarnados. 






  • O cego das bofetadas
  O homem limpou com a manga do casaco a gordura que lhe escorria pelas barbas e, pousando o osso do pernil que esburgara sobre a mesa, disse aos seus comensais:
    - O que mais me impressionou em todas as minhas viagens pelo mundo foi uma história que ouvi de um cego em Basrah, porto de mar no Oriente.
    O narrador esgaravatou com a unha uma febra entre os dentes e depois de degluti-la, estalando a língua ruidosamente, prosseguiu:
    - Cascavilhava os bazares da cidade á procura de curiosidades, quando deparei um esmoler recostado a parede de uma das lojas, tendo numa das mãos a correia da coleira de um cão que dormia espichado a calçada e na outra uma cuia com algumas moedas de cobre
    Impressionou-me a majestática nobreza da sua estatura erética, imponente mesmo
    De vez em quando, agitava a cuia fazendo tilintar as moedas e com a voz forte e m que uma nota de autoritarismo, implorava:
    - Uma esmolinha! Uma esmolinha em nome de Allah!
    Atirei-lhe uma moeda de prata.
    Projectando o busto para a frente, o homem implorou:
    - Tu que me deste uma esmola, da-me também uma bofetada.
    Era estapafurdio o pedido. Segurei o mendigo pelo braço e propus:
    - Dar-te-eis a bofetada que pedes e mais outra moeda de prata, se me contares a razão de tão estranho pedido.
    O esmoler aquiesceu e para poder ouvi-lo melhor, e para poder ouvi-lo melhor, fora do vozerio dos bazares, fomo-nos abrigar a sombra de um velho barco emborcão a margem do cais.
    Tendo-se sentado com as pernas cruzadas a jeito oriental e, depois de afagar carinhosamente a cabeça do cão que se espichara ao seu lado, o cego deu inicio a sua história:
    - Até bem pouco tempo fui o Vizir do grande califa Arun Al Rachid. Meu palácio em Bagdad era o segundo em tamanho e suntuosidade de todo o império. Coletod de impostos internamente e de tributos com os povos vassalos, administrador do tesouro do soberano e chefe dos exércitos, era eu o homem forte do governo a quem todos acatavam e reverenciavam.
    Uma coisa contudo fugia a minha alçada - A justiça. A justiça, o Comentador dos Crentes - Arun Al Rachid o magnânimo, fazia questão de ministra. E eram tão sábias suas sentenças que de todo o império e mesmo do estrangeiro vinham curiosos e estudiosos das suas decisões
    Um dias, veio morar perto do meu palácio um rico comerciante, que até então vivera numa das províncias distantes.
    Entre o séquito de suas escravas uma havia por quem me apaixonei perdidamente. Propus-lhe a compra e para meu mal o homem a queria de tal forma, que recusou todas as propostas verdadeiramente aloucadas que lhe fiz. Como as paixões contrariadas mais se exacerbame nada tenta mais para o mal do que o poder em nossas mãos, um dia em que o mercador se ausentara para uma longa viagem às fronteiras da Índia, mandei que os meus fâmulos com o apoio de uma escolta armada invadissem a mansão vizinha e trouxessem aos meus braços a escrava desejada.
    Ela merecia a corte de um Califa. Era uma huridescida a Terra, dos céus de Allah.
    Fi-la minha favorita e a felicidade entrou no meu palácio.
    O tempo passou rápido como um voo de andorinha e por minha vez me ausentei na chefiada de uma expedição punitiva a uma das tribos turbulentas do deserto. De volta, soube consternado que a minha favorita querida havia sido reclamada pelo seu verdadeiro dono que voltara de sua viagem, e meu mordomo, em face da lei e da minha ausência, a devolvera julgando fazer o mais acertado.
    Ferido no meu orgulho, cego pela paixão invadi eu mesmo o palácio do meu rival e, como este ousou defender com armas na mão a sua propriedade, matei-o abrindo-lhe a cabeça com um golpe de cimitarra.
    Arun Al Rachid, o herdeiro de Mahomet, o Comendador dos Crentes e senhor de todo o império árabe, mandou prender-me e è frente de toda a corte para que servisse de exemplo ordenou que me cegassem com um ferro em brasa e fossem confiscados todos os meus bens.
    Desde aquele dia, peço esmolas para matar a fome e a do único amigo que me resta,  -  O meu cão. E como não posso conformar-me com a minha própria estupidez em ter querido diminuir a autoridade de meu senhor e soberano, que tanto confiava em min, aos que me dão uma esmola imploro uma bofetada.
    Esta parábola espelha o desvio de muitos espíritos encarnados ou no plano extra-físico.
    Com a herança brutal do instinto que já foi uma forma evolutiva do passado, desdenhamos muitas vezes as advertências da razão, que é outra aferição evolutiva, e desobedecemos às leis sábias de DEUS que nos quer amorosamente, despenhando-nos no envolvente turbilhão do sofrimento que com o tempo imprime na carne viva do nosso espírito as lições candentes que nos repulsarão para sempre do erro.
    Uma criança de poucos anos de idade só evitará uma chama, quando nela sentir o dedo chamuscados.
    Segundo o grande filósofo cristão Huberto Rohden: "o homem vital mente. que sofreu profundamente; sabe somente aquilo que a tal ponto se fundiu com o seu EU que com ele forma um só bloco, uma só entidade, idêntica a sua própria natureza. " E acrescenta o sábio: A palavra. "saber" não significa própriamente ter noção intelectual. mas sim ter ou tomar o sabor de alguma coisa. Assim, por exemplo, dizemos: isto sabe bem. "Saber", no sentido primitivo e próprio, quer dizer saborear: conhecer alguma coisa pelo sabor, isto é por experiência direta, vital, biológica".
    O cego das bofetadas, alem do castigo justo e brutal que merecera, queria imprimir mais indelevelmente no seu espírito o seu grande erro. Assim não cometeria idêntica falta, quando tivesse de voltar para nova exemplificação.
    Na reencarnação, acumulamos no fundo saco da subconsciência as experiências que vamos vivendo e com o tempo não volvemos a expor as mãos as chamas como fazem as crianças ignorantes.






  • A carta
   Minha querida. 
    Foi um terrível golpe a carta que deixaste. Não precisavas ter escrito aquelas palavras que tanto me feriram. Sabias muito bem que te deixaria ir sem um gesto para reter-te. Não sou um covarde como dizes. A força de nada vale neste mundo. Para que ter-te, sentido tua aversão por min e por este ambiente em que vivo? Tiveste medo? De que me serviria qualquer ato de violência, se então seria maior o nosso afastamento?
    Não interpretes erradamente esta carta. Não desejo tua volta.
    Acho que tens razão em não gostares de min e de tudo o que me cerca. Há um provérbio árabe que diz: "quando se passa a ter os olhos na alma, começa-se a descobrir beleza nas coisas simples da vida".  E os teus belos olhos estão na carne, minha querida.
    Imagino teu deslumbramento  nessa grande cidade em que estas - movimento, vitrines, cinemas, "boites", noitadas fáceis, prazeres violentos....
    Prefiro o bucolismo da roça, o mugido dos bois, o cantar da cascata do ribeirão, o cacarejar das galinhas, o cheiro morno da terra quando chove, a radiosidade das manhãs com o sol por trás da serrania e a policromia gloriosa do entardecer para alem da mata da canaubeira.
    Rizinha sentiu muito tua falta. Eu chorava de pena quando a chamava por ti. Nós homens nunca substituiremos as caricias de mãe. Mas a vida é assim mesmo para alguns seres. Ela te ira esquecendo, pouco a pouco...
    As acácias estão todas floridas, e as quaresmeiras se assemelham ao meu espírito - estão cobertas de roxo.
    O beija-flores que haviam sumido voltaram ao jardim e consegui que eles se acostumassem a beber uma mistura de agua com mel num vidrinho que pendurei na trepadeira da varanda.
    A tua laranjeira da entrada do curral esta pejada de frutos e os xexéus cujo canto tanto te irritava, não sei porque se mudaram da grande paineira do paiol.
    Desculpa se não te faço esta carta do próprio punho; a paralisia me dominou. Em compensação, todos se têm desvelado por min.
    A Ritinha do Tancredo tomou conta da casa, e o Nhonhô do joca é o meu novo feitor. Mamãe vai mudar-se no próximo mês para cá.
    Convenci Rizinha de que tinhas feito uma longa viagem e que voltaria brevemente. Todos os dias quando cai a tarde, ela muda a roupa e te vai esperar na porteira da horta. Como chora, coitadinha!
    Adeus. Fica em paz. estou-te mandando algum dinheiro pelo Joãozinho. Que tenhas encontrado o que procuravas é o que te deseja de coração o teu amigo...
    
    O perdão é a vingança dos bons. Perdoar e amar os que nos ofendam é um dos mais notáveis postulados do Cristo.
    A pena de Talião - olho por olho dente por dente... gera o ódio que, através das encarnações, parece se eternizar, enquanto o amor ao ofensor produz neste o arrependimento, fazendo brotar novamente o amor.
    Afoguemos nossos desejos de vingança, voltemo-nos para o Divino Mestre e, inspirados no seu exemplo, lhe roguemos que nos auxilie a domar nossos instintos ferozes e dominar nossa vaidade e nosso orgulho que quase sempre nos impedem de estender as mãos num gesto de paz aos nossos ofensores.






  • A resposta
     Tua carta me fez ver toda a hediondez da minha alma e a imensa grandeza do teu espírito. Para todo o lado que olho estendem-se para min os bracinhos de minha filha, e sinto suas lágrimas caírem no meu próprio coração. Os encantos da grande cidade foram um sonho transformado num pesadelo. Causticam-me a consciência todos os desvarios, todas as futilidades, todos os deslizes que aqui pratiquei. Como é possível a um espírito humano descer tão baixo!
    Mas tenho a certeza de que tornarei a subir com teu amparo, com tua proteção , com teu perdão.
    Para agravar minha divida, sou a causadora da tua paralisia. Sinto-me como um verme desprezível. Não mereço ser o pó em que pisas.
    Peço-lhe que permitas seja tua enfermeira e talvez ganhe com o tempo a graça de apagar meus remorsos.
    Perdoa-me, querido. Ajuda-me a erguer da lama em que me chafurdei. Estou certa que com teu auxilio "passarei a ter os olhos na alma e a ver com alegria as coisas simples da vida".
    Ontem, depois que li tua carta, senti-me asfixiada no meu quarto e sai para o parque próximo. As lagimas escaldavam-me o rotos. Sentei-me num banco e pus-me a olhar as árvores onde os pardais piavam. Pela primeira vez, tive saudades da fazenda - dos banhos no ribeirão, do caldo da cana saído da moenda, dos passeios a cavalo até a fazenda Boa Esperança e das caricias da minha filha que tanto precisa de min.
    Estou ansiosa por contemplar no campo o arrebol e o por do sol. Tenho quase certeza que irei ter saudades do grazinar dos xexéus na grande paineira do paiol.
    Como chorei, meu querido! Chorei com pena de min, chorei da minha própria abjeção. Felizmente, o parque estava deserto aquela hora.
    Será que tua mãe também me perdoa? Creio que sim. ela é tão boa!
    Quando tirei o lenço dos olhos, uma menina passava por min. tinha a mesma altura, os mesmos cabelos e a vivacidade de nossa filha. Para maior semelhança, levava um vestido igualzinho ao que compramos para ela no dia dos seus anos.
    Levantei-me num pulo e gritei:
    - Rizinha!
    A menina voltou-se num sobressalto. Seu rosto não tinha nenhuma semelhança com o da nossa filha. Levou a mãozinha ao coração e voltando-se, fugiu assustada. Eu devia parecer uma louca.
    Meu querido, tem piedade de min. Vou mudar-me para um hotel mais modesto onde esteja ignorada de todos os conhecidos. Quando o Joãozinho voltar na próxima semana irei na sua companhia.
    Adeus. A teus pés, fica tua...

    Devemos fazer uma autopsia diária. Ajuizando com inflexibilidade todas as ocorrências das nossas vinte e quatro horas. Louvemos sempre o Criador se temos o nosso crédito ações de caridade e de amor aos nossos semelhantes e caiamos de joelhos, rogando perdão ao eterno pelas dividas adquiridas. Mas quando em débito, é preciso que lutemos para não repetir a falta e nos lembremos sempre que é necessário perdoar para sermos perdoados. 














  • A caridade
    Era um tribunal espiritual. Dominando o vasto recinto, sentavam-se atrás de uma mesa varias figuras veneráveis, sobre cujas cabeças havia um halo resplandescente.  O ambiente era iluminado por uma luz verde, repousante, e tomando toda a parede havia uma grande cruz que lantejoulava como que engastada de pedrarias.
    Um paz serena envolvia todos os corações e no éter vibrava uma estranha e suavíssima música que fazia elevar os espíritos numa suspensão de prece.
    Súbito se fez silencio, e o presidente, erguendo-se e elevando os olhos, murmurou:
    - Mestre amado. Louvado seja o vosso sagrado nome. Aqui estamos para ouvir e julgar três dos vossos filhos que terminaram seu estágio na Terra. Rogamos para eles vossa bênção e vossa proteção e pedimos permissão para iniciarmos nossos trabalhos.
    Um murmúrio de bênção correu entre os presentes e, quando se fez silencio, uma voz vinda do alto encheu o enorme recinto:
    - Fale o primeiro irmão
    Uma sombra adiantou-se para uma espécie de púlpito e descobrindo o rosto, disse:
    - Vendo do Departamento de Recuperação
    - Que fizeste na Terra?
    - Fui preboste do rei.
    - Que realizaste de bom?
    - Defendi a coroa e a religião. Estendi a fé cristã a pontos extremos do mundo.
    Fez-se silencio e depois de alguns momentos, uma segunda voz cheia de energia vibrou do alto:
    - Foste um flagelo. Tua vaidade, teu orgulho, tua estupidez fizeram dobrar a humanidade no sofrimento e na dor.
    - Será que nada tens que venha em teu socorro? perguntou ansiosamente a primeira voz.
    - Fui bom pai, fiz caridade....murmurou tremulamente a sombra.
    - Tiraste de outros pais para dar aos teus filhos que tudo tinham e a tua caridade foi farisaica, para, que te aplaudissem.
    Os jurados da mesa se comunicaram entre si, e o presidente, levantando-se, anunciou:
    - Já tiveste a paga pelo que fizeste de bom, sendo que teu débito cresceu assustadoramente. Erra pelo orbe sozinho, sem os antigos bajuladores que te acompanhavam e vê com teus próprios olhos o mal que fizeste com tua prepotência, teu orgulho e tua cupidez. Quando estiveres farto de todo o sofrimento que causate, roga ao Divino Mestre que te conceda a graça de voltar a Terra sob a carne dolorida de um mendigo leproso.
    A sombra curvou a cabeça, mas em passos firmes onde se via ainda o orgulho,  afastou-se ladeado por acompanhantes transparentes.
    - Fale o segundo irmão.
    Uma segunda sombra tomou lugar no púlpito. Era uma pequena figura de mulher. O pedaço de rosto que se via sob a grande e alvinitente touca parecia talhado em nivea cêra 
    - Venho da Terra diretamente a este recinto.
    Um murmúrio de admiração correu pelo tribunal.
    - Que fizeste no Mundo?
    - Fui irmã da caridade. Devotei-me aos que sofriam e nos terríveis dias da peste negra chorava, quando nenhum lenitivo podia dar aos meus pobres doentes.
    - Pura entre os puros! exclamou a segunda voz num timbre de alegria.
    Novo murmúrio de hosanas correu pelo Tribunal. O presidente levantou-se e concluiu com alegria:
    - Ganhaste o estágio em alta esfera. Que Deus continue a mostrar-te sua estrada.
    A pequenina sombra prosternou-se e erguendo-se, traçou sobre o peito um amplo sinal da cruz. 
    - Fale o terceiro irmão...
    Era um jovem forte e , apesar do sorriso que o iluminava, havia no seu rosto macerado indefinível tristeza.
    -Também vim diretamente a este Tribunal.
    Novo murmúrio correu entre os assistentes.
    - Que fizeste na Terra?
    - Quase nada. Não tive paradeiro nem pousada certa. Por onde andei, ajudei aos que precisavam de um braço e de amparo. Aqui era aguardeiro, ali pastor, mais além coveiro, e o que ganhava, repartia pelos que eram mais famintos do que eu. Minha grande alegria era a natureza. Fui um poeta do Criador. Encantava-me o palpitar de uma asa, o pipilar dos passarinhos famintos num ninho e o laborioso trabalho de um broto, rasgando a casca humilde para se transformar mais tarde em folhas, flores e frutos, Emocionava-me o nascer e o pôr-do-sol e nada me magoava mais do que o triste choro de uma criança.
    - E o que tem ensombrece a face? Saudades da Terra?
    - Não. Magoa-me  o coração o ter falhado na minha ultima missão.
    - Conta-nos o acontecimento para que o julguemos.
    - A sombra curvou a cabeça sobre o peito como se meditasse e começou:
    - Eu o encontrei escondido na orla do bosque. Fui guiado pelos seus gemidos e a grande custo consegui puxá-lo para a clareira. Pensei seus ferimentos como pude. Pediu que o deixasse onde estava e que anda dissesse a quem quer que fosse.
    Fui ao povoado mais próximo onde arranjei um pedaço de pão, uma brilha d'agua, e voltei ao local onde estava o ferido. Não o encontrei. Segui-lhe as pegadas e depois de algum tempo, em pleno bosque, encontrei-o desmaiado. Havia cavado um buraco ao pé de vetusto carvalho, mas não conseguira puxar um saco que descobrira. Tirei-o para fora e espantado vi que continha castiçais de prata, coroas de ouro cravejadas de brilhantes e os cálices de metal usados no serviço religioso de um templo. Com certeza aquilo era produto de um saque. Nesse meio tempo, ele tornou do desmaio e ao ver-me levou a mão a cintura onde se via uma bainha vazia. Esboçou um sorriso e disse:
    - Eu lhe conto toda a historia. Sou servente leigo da abadia deste Condado, e o moleiro mais o filho, que são dois desalmados, me obrigaram a roubar estas peças da igreja do convento. Assim fiz. Fugimos, mas ao atravessarmos o bosque quase ao anoitecer, fi-los perderem-se de min e escondi o tesouro sob o carvalho. Era minha intenção voltar a entregar o produto de tão grande crime, mas eles me encontraram e tudo fizeram para que eu confessasse o esconderijo. Desanimados e raivosos me golpearam e me deixaram como morto.
    No rosto do feiro transparecia a falsidade, a mentira e a maldade. Dei-lhe  o pão e a agua e disse-lhe que ia deixa-lo. Rogou-me que não o fizesse, que o ajudasse a reparar sua involuntária falta. Tive pena do infeliz e enquanto esperava que se refizesse, aconselhava-o a que retomasse sua vida simples e honesta na sacristia. Quando se sentiu com forças, pusemos-nos a caminho. Ele pediu-me que colocasse a riqueza roubada no meu saco, sob o pretexto de que o outro estava rasgado. Quando estávamos perto do povoado, acometeu-o súbita fraqueza. Amparei-o e ele passou-me o saco com o roubo da igreja, Mal nos acercamos das primeiras casas, fomos aprisionados pelos homens d'armas da abadia.
    No convento, o servente acusou-me como autor do roubo e dos seus ferimentos. Fiquei pasmo principalmente em ver a abjeção daquela alma. Nada fez para salvar-me. As provas eram todas contra min. Bastava a minha bagagem para evidenciar o crime. Fui condenado a roda.
    Meu martírio é indescritível. No patio da abadia fui deitado sobre uma roda no paribulo e tive meus braços e pernas esmagados com uma barra de ferro, pelo carrasco. Fiquei desconjuntado, horas e horas. A contração dos músculos causava-me dores inenarráveis que se foram  intensificando a medida que a gangrena avançava. Pareceu-me sofre um século. Ele, o ladrão empedernido, assistiu sorrindo a todo o martírio e, coitado, mal sabia que minha maior dor era sentir-me fracassado em não conseguir fazer na sua alma negra uma réstia de arrependimento.
    - A sombra calou-se comovida enquanto um longo murmúrio perpassava entre os ouvintes. Por fim se fez silêncio, e o presidente, levantando-se, exclamou:
    - Meu irmão, és a própria síntese da caridade. Tu serás ainda hoje recebido pelo Divino Mestre.
    Todos os componentes do Tribunal ergueram-se vibrantes, louvando em Jesus, o poeta do Criador que viera da Terra após cruel martírio.

    Não há somente caridade em distribuir esmolas, em vestir, em matar a fome dos desgraçados, mas também em falar, ouvir, impedir, favorecer, ajudar, esquecer, recordar, amar e perdoar. Se consolamos aos que choram, se incitamos aos que fraquejam, se não replicamos aos que nos anatematizam e se temo um sorriso de compaixão  para os que nos ferem, mora nos nossos corações a própria caridade, a excelsa virtude que nos conduz diretamente á morada do Senhor.






  • A chama da vida
    -Senhor! senhor! Tende piedade de min!
    O rôgo aflitivo se espraiou como uma onda pelo éter e varou os espaços, ecoando nas diversas moradas do Criador.
    Uma face luminosa se inclinou solicita nalgum lugar do infinito, e uma voz que era a quinta-essência da harmonia se fez ouvir:
    -Que me queres, filhos?!
    -Pai! livrai-me do tédio em que me encontro. Elevai-me a outras esferas onde possa encontrar a verdadeira felicidade...
    -Esta bem, meu filho. Toma então esta chama e desce ao plano trevoso da Terra,
    -Que é esta chama? quis saber o espírito, acolhendo nas mãos côncavas a pequena labareda que brulhendo nas mão que bruxoleava a brisa suave do amanhecer.
    -É a chama da vida materializada. Desce a terra. Vive ama e sofre entre os homens. Este orbe é a grande escola dos que no teu grau desejam ou precisam evoluir. Serás senhor de ti no caminho da vida que vais percorrer. Valtar-te para o bem e ama o teu próximo como a ti mesmo. Não te esqueças de que a caridade é a suprema fonte que te enriquecera. Lembra-te sempre que a materialidade não é um campo de prazeres, mas um filtro depurados do progresso espiritual. Quando a dor te atingir, sofre com resignação e se o sofrimento te fizer sobrar como a um caniço, sob a tempestade, eleva teu pensamento a min e eu te aliviarei.
    E se a dor for superior as minhas forças, não poderei libertar-me soprando a chama da vida?
    Como que um trovão fez vibrar de horror as coisas belas do alem
    - Minhas leis, oh! pobre filho! são a própria perfeição. Não tens o direito de fugir a oportunidade que te dou para subires os degraus que te levarão a planos superiores. Apaga-se a pequenina chama da vida e ai de ti se a apagares!
    Houve um grande silencio no espaço como que transido de horror .
    Tremulo, com as mãos em concha, amparando a chama que bruxoleava, o espírito erguei-se sobre os joelhos e arrastando os pés iniciou a descida para a crosta da Terra.




    Curvemos-nos ante o Eterno Criador de todas as coisas e lhe agradeçamos pela ventura que nos concedeu, mesmo que estejamos encarnados na miserável carcaça de um paria. Lembramos-nos que o Cristo, materializado como nós sabendo o sofrimento que o aguardava, não desertou da sua missão e sofreu na carne como qualquer um de nós perdoando na cruz aos que o estavam martirizando.
    Quando nossas dores, nossos sofrimentos morais nos parecerem intoleraveiz, volvamos nosso pensamentos para a prece raciocinada e  conversemos com Deus. como filho dirigindo-se ao Supremo Pai e fiquemos certos que Ele nos atenderá. Não cedamos no desespero, pesando em libertar-nos com a morte. O suicídio não nos  livrará do sofrimento em que nos encontramos,pois nossa vida é eterna. Pelo contrario . Depois da morte material, o espírito continuara com as mesmas sensações que o martirizavam antes, com o acréscimo de ter lançado a Deus a maior injuria que é dado a um ente no universos.
    Soframos, pois com paciência, atentando que a resignação é um degrau de depuração  e progresso, ao divisamos o pórtico da morte material. Tenhamos pelo menos a satisfação de dizer: senhor, defendi até o meu ultimo alento a chama da vida que vóz me confiastes.















 

     








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